sábado, 19 de outubro de 2024

Minha História Como Sorveteiro (vs Indie Dev)

 Saudações a todos!

Depois de escrever a série "Minha História Como Indie Dev Profissional", vem a seguinte continuação (inesperada).

Depois de ir a falência e remover meus jogos da Steam, fiquei um tempo apenas por conta de cuidar de minha mãe, até conseguirmos uma vaga para ela no asilo depois de sua saúde piorar consideravelmente. Agora eu tinha que trabalhar apenas por minha causa mesmo, pois a vida dela já estava resolvida.

Passei por muitas tentativas de arrumar um serviço, várias recusas após entrevistas de emprego e um carro batido do chefe bem no primeiro dia de trampo (e uma demissão em seguida), até que comecei a ficar sem alternativas. Felizmente, eu conhecia um homem que já havia me prestado muitos serviços e quem diria, agora eu é quem iria prestar serviços a sua sorveteria.

Com o carrinho emprestado e 80 picolés de sabores sortidos lá dentro por dia, vaguei por toda a cidade que eu morava, morro acima, morro abaixo, faça chuva, faça Sol, de segunda à sexta. Com o tempo, comecei a formar minha freguesia, e por volta de 40 a 80 picolés por dia estavam garantidos, cada um me rendendo 1 real de lucro.

Fiquei feliz e frustrado ao mesmo tempo, pois apesar de ter saído da Steam, eu ainda tinha um projeto à venda na Itch.io, o Learn RPG Maker MV. Com picolés, eu estava ganhando mais (muito mais) do que com o meu game tutorial atualmente. Aliás, somando todo o tempo que gastei com o desenvolvimento de jogos e dividindo por dias, ainda assim ganhei mais com picolés do que quando queimando neurônios com códigos de programação, arte, trilha sonora, trailers, etc e tendo crise de esgotamento nervoso (ou burnout, pra quem não fala português).

Falando de saúde mental, vender picolés fez bem para mim. Conversei com várias pessoas diferentes, fiz vários amigos e agora tenho muitos conhecidos pela cidade. Lidei com todo o tipo de pessoa pessoalmente, olhando olho no olho, bem diferente dos críticos e alguns valentões de internet (já recebi ameaças de engraçadinhos para quem não se lembra) que tive o desprazer de encontrar online.

Vendi picolés até chegar o inverno, e com o frio, as vendas caíram consideravelmente. Hoje não moro mais na mesma cidade e parei de vender picolés. Voltei para a faculdade, que havia largado por causa da saúde da minha mãe, e estou vivendo de bolsas e auxílios estudantis. Mesmo assim, foi uma experiência que me fez acordar para a vida e perceber como a carreira de indie game dev me foi ingrata.

Mas porque decidi contar essa história tão particular da minha vida pessoal aqui? Talvez por justa indignação aos lucros que recebi como indie game dev depois de tanto perrengue, talvez por falta do que fazer mesmo. Enfim, espero que este artigo sirva de reflexão para todos.


Até mais ver!
Alysson L. Neto

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